Você, caro leitor, já percebeu o quanto anda frenético este mundo?
Tudo precisa ser no momento, o mais rápido possível, pra ontem, imediatamente, agora! Até cansa de ler e dá aquele sentimento de “estou passando por isso todos os dias da minha vida”, não é mesmo?
E nós estamos. Eu, você, o secretário do executivo, a empreendedora, o concursado… Todos, sem exceção.
Mas o que leva a gente a aceitar viver em ritmo de pré-arritmia cardíaca? O que nos leva a levantar da cama dia após dia e saber que, assim como em todos os outros, teremos prazos execráveis, pressões indesejadas (e, às vezes, até desnecessárias) mas mesmo assim calçar os chinelos, lavar aquela cara moribunda de sono e sair de casa para mais um dia cheio de problemas da vida cotidiana?
Honestamente? Não faço ideia. Cada um deve ter seus próprios motivos. O empreendedor almeja sucesso, o trabalhador deseja seu pagamento no quinto dia útil, o voluntário busca mudar o mundo, e por aí vai. Não é possível que coloquemos todo mundo em uma caixinha fechada e rotulada e também não podemos dizer que um ou outro esteja errado.
Entretanto, uma coisa nós precisamos entrar em consenso quando avaliamos se toda essa pressão do dia a dia e o culto ao “agora” é saudável. Não é. Nem um pouco. Viver em estado alarmante provoca ansiedade, estresse, indisposição, fraqueza, cansaço excessivo e muitos outros problemas que eu poderia passar o dia todo escrevendo e, ainda assim, não chegaria ao fim.
A cultura do “agora” cria inseguranças, incertezas, aumenta o risco de decisões precipitadas e errôneas, faz com que a gente viva sempre com aquele sentimento de que algo está faltando ser feito, que não entregamos tudo, que tem coisas em aberto e as deixamos para trás. Não. Você está com tudo em dia (e se não estiver, é uma questão de organização que deve ser resolvida de outras maneiras), mas o culto ao agora te faz pensar que não.
Sabe o que é isso? Você cede 100% da sua energia em conseguir entregar antes suas atividades, seus deveres, e sem perceber suga cada vez mais atividades que pertencem ao futuro para o seu presente. Isso cria uma lacuna no espaço-tempo que, pelo ritmo frenético no qual está vivendo, precisa ser preenchido. Então, você vai puxando cada vez mais atividades que cabem ao seu “eu futuro” para o “eu presente”, em um ritmo e com uma frequência que nunca haverá um fim, pois, pasmem: Nossas atividades a serem realizadas só terminam no momento em que morremos.
E você vai definhando aos poucos, dia após dia, em uma corrida naquela rodinha de hamsters que é impossível vencer. Então você se dá por vencido. Você traz para si aquele sentimento de angústia e ele começa a tomar conta de todos os aspectos da sua vida. Vem a insônia, a vontade de comer um caminhão a cada hora do dia, dores de cabeça e no corpo que você nunca teve mas que surgem sem explicação.
Logo em seguida vêm eles: Os medicamentos. Afinal, você tem plena convicção de que é um doente desacreditado já com a possibilidade de uma vida boa e feliz de novo, como era na sua adolescência, antes de você precisar procurar um emprego ou lutar pela sobrevivência.
Quando chega a hora dos remédios entrarem em ação, você já está em um nível tão avançado de putrefação emocional que em um determinado momento, você percebe que está com uma nova inquilina em seu corpo e alma: A depressão.
E vai afundando, cada vez mais, até chegar em um nível tão profundo deste mal do século XXI que até ela já foi designada com esse termo: Depressão profunda.
Você deixa de lado seus pais, seus filhos, o/a companheiro/a, os amigos, os hobbies, você larga tudo para se reclusar no seu cantinho, ainda assustado porque o prazo do relatório é até semana que vem e você ainda não começou a fazer. E a depressão é cruel: Além de te afastar de tudo que você ama, ela também vai te prejudicar no que está causando o aparecimento dela, o que te mata aos poucos, que é a obsessão inexplicável pelo agora.
Pause.
A vida não é para ser vivida dessa forma. Não posso ser hipócrita pois vivemos em um país (e em um mundo) com níveis de desigualdade que sequer imaginamos, mas dinheiro não compra tudo. E, acima de toda essa diferença social que nos impede de tomarmos decisões complexas, SEMPRE há a possibilidade de mudança, de transformação, de reinvenção.
Pode ser que você nem sequer saiba o que ama fazer. Ainda não chegou lá e só vai conseguir chegar quando parar de se enxergar (e de viver) na alucinante corrida dos ratos e focar em você, no que seu corpo precisa, no que sua consciência pede.
Ouçamos mais a nós mesmos. O corpo dá sinais. Aquela tremilicada no olho pode indicar que estamos com níveis de ansiedade extremamente altos, bem como acontece quando nossa perna parece ter vida própria e saltita incontrolavelmente enquanto conversamos com alguém sentados em uma mesa. A dor de cabeça que você traz para casa no fim do expediente pode dizer muito mais sobre o que você precisa do que realmente o que passa pelos seus pensamentos. Dê ouvidos ao corpo. Ele sussurra, ele fala e ele grita desesperadamente quando encontra-se em vulnerabilidade.
Como diria o poeta: Seja o senhor do seu tempo. Não seja engolido pela cultura do agora.